23 abril 2009

A questão da religião e as intolerâncias

Escrevi a matéria “Espiritismo religião. Pra quê?” e não pára de chegar manifestações a respeito dela. Geralmente essas manifestações ocorrem, durante muito tempo, porque as pessoas retransmitem o meu e-mail, para seus amigos, enquanto outras levam o assunto a debates em casas espíritas, o que proporciona os mais diversificados pontos de vistas.

Em casos normais, eu costumo esperar certo tempo, quando ocorre um número maior de opiniões a respeito, para escrever uma outra matéria, falando sobre a anterior, mas, no caso desta, em razão de algumas reações, acho necessário enviar uma outra, imediatamente, para melhor esclarecimento de algumas pessoas, inclusive alguns leitores amigos.

Recomendação de alguns amigos:

É muito comum alguns amigos me enviarem alertas, mais ou menos assim:

- "Alamar. Você deveria ter muito cuidado com certas coisas que diz. Não sei como você tem tanta coragem em falar desses assuntos. Eu me preocupo com as conseqüências que você deve sofrer. Já vi gente, aqui, por muito menos, ser proibida de falar no centro e até ser jogada, moralmente, contra as pessoas."

Já é um motivo pra gente levantar a voz, posto que não se pode admitir, em hipótese alguma, que no movimento espírita ocorram procedimentos nos moldes da inquisição e tudo, neste sentido, deve ser abolido a qualquer custo. Se as pessoas manifestam esse tipo de preocupação, não é por acaso, é porque elas presenciam esse tipo de prática, a todo momento, em suas cidades, nos centros onde frequentam. Caso contrário, jamais fariam tal recomendação.

Quero tecer considerações iniciais:

A questão da opinião pessoal

Tive o cuidado de, no início da matéria, esclarecer aos leitores acerca do que é opinião pessoal e o que é verdade, deixando muito claro que eu estaria manifestando a minha opinião pessoal, que é um direito sagrado que tenho e que gostaria muito de ser respeitado, da mesma forma que tenho a tradição de respeitar as opiniões de todas as criaturas, relembrando Voltaire, quando nos ensina:

"Posso não concordar com o que tu dizes, mas defenderei, até a morte, o teu direito de dizer o que quiseres".

Se me disponho a formar opinião pessoal, e depois expressá-la, é porque não me conformo em ser um homem ameba, não me admito ser um teleguiado e nem mais uma marionete do mesmismo, submisso a conceitos formados com base no que “todo mundo” diz, sendo obrigado a aceitar as imposições do tipo “porque sim” e “porque não”.

Parto do princípio que, dentro da minha caixa encefálica, deve ter apenas o tipo de substância que forma o cérebro, sem qualquer espaço para um outro tipo de substância que, mais apropriadamente, deve ser deixada no intestino grosso, até que seja expelida.

Portanto, vale lembrar a algumas criaturas, escravizadas pela religião e submissas a elas, que as suas opções de crença e visão são respeitáveis, mas que não insistam em calar pessoas que não pensam necessariamente conforme elas e que não subestimem a inteligência dos outros, ao formarem interpretações malucas e insensatas em cima do pensamento alheio, já que práticas como estas caracterizam-se como leviandade.

Que me desculpem o que pode parecer um auto elogio, mas o que fiz, ao iniciar o artigo esclarecendo a questão da “opinião pessoal”, é algo que só se vê nos escritores, expositores e formadores de opinião seguros de si, não presunçosos, que tem responsabilidade no que dizem e no que escrevem, ao contrário de muitos que existem por aí, inclusive no meio espírita, que tomam da tribuna e colocam coisas, das suas cabeças, como se fossem VERDADES ESPÍRITAS, e, o pior, ainda cobram dos freqüentadores da casa, comportamentos, conforme os seus conceitos pessoais.

Considerações sobre a matéria

É aconselhável que qualquer pessoa, que queira contestar alguma matéria, se dê ao trabalho de, antes de tudo, ler a matéria completa, e, se possível, mais de uma vez, para evitar laborar em mal entendidos.

Em momento algum eu endossei qualquer idéia de retirar Jesus do Espiritismo, de desconsiderar a crença em Deus, de considerar a Prece como prática desnecessária, de desmerecer o “Evangelho, segundo o Espiritismo” e muito menos de retirar o aspecto moral da doutrina.

Só mesmo mentes extremamente intolerantes, pré-conceituosas, precipitadas e até levianas para poder vincular o que eu escrevi, com essas maluquices. A praga do achismo, em nosso meio, é algo lamentável: "Acho que ele está querendo dizer isto", "Acho que ele está querendo dizer aquilo". É triste.

Aliás, esse tipo de postura, altamente repugnante, tem sido constante em nosso movimento espírita, sobretudo no segmento religioso/igrejeiro, como o exemplo do processo de difamação que montaram contra a CEPA (Confederação Espírita Panamericana), com aquela ridícula argumentação de que ela pretende retirar Jesus do Espiritismo, o que é uma mentira deslavada.

O que a CEPA propõe é que o Espiritismo seja disponível, TAMBÉM, para Muçulmanos, Budistas, Judeus e praticantes de todas as religiões, como sempre quis Kardec, e não apenas fique restrito a um rótulo que, por um motivo ou por outro, possa ser preconceituosamente discriminado por alguns bilhões de pessoas.

Qual o mal que há nisso? Como alguém pode ser contra uma proposta tão coerente?

O que fazem muitos dirigentes espíritas, e até grandes instituições, contra a CEPA, nesta onda de difamação, é algo extremamente reprovável, não aceitável nas pessoas comuns, quanto mais em outras que se dizem representantes de uma doutrina, como o Espiritismo, que o mínimo que deveriam ter era vergonha na cara.

Eu apenas questionei:

Por que o Espiritismo tem que ser religião?

Por que muitas criaturas são tão dependentes de religião?

Aí, aparecem aquelas argumentações de que Espiritismo sem o aspecto religioso é frio, não tem amor, não tem Jesus, não tem Evangelho, não tem perdão, caridade, fraternidade, indulgência, humildade, crença em Deus... etc...

Mas que coisa mais maluca, em acharem que esses valores só podem ser praticados com o rótulo religioso.

Quer dizer, então, que, se encontrarmos um cidadão que é honesto, digno, carinhoso, caridoso, excelente filho, excelente marido, excelente pai, consciente dos seus deveres, com histórico de vida dedicado ao próximo, consciente de que só deve fazer ao seu próximo o que gostaria que lhe fizessem, absolutamente sintonizado com o modelo Jesus, mas, ao lhe perguntarmos qual a sua religião, ouvíssemos a resposta: “eu não tenho religião”, deveríamos levá-lo à fogueira, sob a insana concepção de que é impossível alguém, que não tenha religião, viver valores elevados?

Será que a nossa mediocridade é capaz de tal coisa?

Há quem argumente que quem não admite a rotulação religiosa do Espiritismo, necessariamente é Ateu.

Que diabo de conceituação mais maluca! Lembro John Heywood, quando diz o contrário disto: "Quanto mais perto da igreja, tanto mais longe de Deus".

Deixei claro em meu artigo uma realidade: A palavra RELIGIÃO significa RE-LIGAÇÃO, e qualquer tentativa em desconhecer isto é sofisma. Ao longo dos séculos, já que o poder da religião sempre foi muito grande, inclusive em épocas que ela era comandada pelos imperadores e até pelas cortezãs, todo tipo de manipulação foi feita, até mesmo junto a alguns autores de dicionários, para tentar dar-lhe um outro sentido, daí alguns espíritas virem com essa conversa de que religião significa “ligação” com Deus, e nós espíritas devemos, sim, viver ligados a Deus.

Isto é apelação!!! LIGAR é uma coisa, RE-LIGAR é outra.

Eu também concordo que todos nós espíritas devemos nos ligar a Deus, a Jesus, aos Bons Espíritos e não tem como a gente discutir isto.

É bom lembrar que muitos dos dicionários, citados por alguns espíritas, também definem o Espiritismo como bruxaria, feitiçaria e até necromancia. Nós temos que aceitar?

Competições entre segmentos espíritas

Vejam só, esta outra maluquice.

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Inventaram, no meio espírita, que existe uns tais de cientificistas, que querem considerar o Espiritismo, apenas, como ciência e filosofia, e os colocam em oposição com outros grupos, que talvez fossem os “religiosistas”, estabelecendo um verdadeiro Vasco e Flamengo ou Corinthians e Palmeiras, nesta história, do mesmo jeito que os conhecidos Chiquistas (fanáticos pelo Chico Xavier), dos anos sessenta, resolveram conceber o Divaldo como opositor do médium mineiro, chegando a ponto de caluniá-lo, difamá-lo e fazer de tudo para destruir a sua imagem, jogando um contra o outro.

Estão criando agora os adversários: religiosistas e cientificistas.

Uma tremenda bobagem, sem o menor sentido.

Isto é uma vergonha e só espíritas muito irracionais são capazes de tomar partidos, desta forma.

Não existe cientificista nenhum, no meio espírita; o que existem são companheiros que consideram, TAMBÉM, o aspecto científico da doutrina, coisa que não é considerada por aqueles que vêem o Espiritismo apenas como prática de rezação e de igreja.

Um companheiro, talvez por incapacidade de criar algo útil, criou uma idéia que costuma dizer, a meu respeito, o seguinte:

- “O Alamar, depois que se mudou para São Paulo, de tanto freqüentar o centro do Sérgio Felipe, entrou nessa onda de cientificista também e não considera mais o espiritismo como religião”.

Quanta insanidade. O cara chutou feio.

Em princípio, o Sérgio Felipe é um dos maiores defensores do aspecto religioso do Espiritismo, ele gosta de, também, ver o Espiritismo como religião e, em que pese na sua Clínica/Centro Espírita ter muita prática Espírita/Científica, todos os seus freqüentadores observam claramente as práticas que são lidas como religiosas, como o fervor das preces, a necessidade da Fé e tantas coisas dessa natureza que o brilhante cientista ensina a todos, com toda humildade.

A mesma intolerância é verificada em relação à Dora Incontri, que muitos a acusam de querer tirar Jesus do Espiritismo, quando a idéia dela não é nada disto. Ela simplesmente sugere que as pessoas vejam o centro espírita como ESCOLA e não como IGREJA, e eu concordo. Ela, por ser educadora, doutora no campo educacional, sugere práticas espíritas mais educativas, mais estudos gerais, mais conhecimento, enfim.

E educação também esclarece, consola, alivia, conforta e ilumina.

Mas eu sei porque muita gente é contra as propostas de que as pessoas comuns devam ser educadas, esclarecidas, informadas da necessidade de abrirem as suas mentes. É porque é muito mais fácil manipular o ignorante, coisa que os religiosos, assim como os políticos, adoram.

Aí ficam com aquela conversa besta de que não devemos questionar certas coisas. Ora, que vão caçar o que fazer. Só acéfalos aceitam esses "ensinamentos" malucos de que não devemos questionar "certas coisas". Eu questiono, sim, tudo. Se estivesse diante de Deus, uma coisa eu iria questionar a ele: "Senhor, por que o Senhor fez o abacate com um caroço tão grande? Não dava pra fazer menorzinho não?". Cabe na cabeça de quem, que o Criador ficaria aborrecido comigo, por causa da pergunta?

Lideranças religiosas, assim como políticas, não suportam pessoas que questionam.

Raciocinemos:

Se eu “tenho” um centro espírita, com mais de 1000 freqüentadores, onde eu mando, eu sou o líder de todo mundo, eu dou as ordens, eu me acho no direito até de dizer às pessoas como elas devem se vestir, como devem investir os seus dinheiros, como devem se comportar e as lidero, conforme as minhas conveniências, é natural que reajo contra qualquer outro espírita que venha a instruir esse povo e, principalmente, contra aqueles que venham a sugeri-lo ter opinião própria e a aprender a raciocinar com sua própria cabeça.

Eu não vou querer perder as vaquinhas do meu curral, gente!!!! Para muitos líderes religiosos, os fiéis da sua denominação nada mais é do que gado.

A grande reação ao Alamar, começou daí.

Vejam só:

Anteriormente, as pessoas só viam informações sobre Espiritismo no “meu” centro espírita, onde só falava eu e as pessoas que rezavam conforme a minha cartilha. Qualquer jornalzinho ou revista espírita que aparecesse por lá, e que não era conforme o que eu queria, era proibida de circular. Palestrantes que não estavam comigo, eram proibidos de falar, livros que eu não aprovava eram censurados e não vendiam em minha livraria, eu proibia as pessoas de freqüentar outros centros, sob ameaça de processos obsessivos...

De repente aparece esse maluco do Alamar, entrando pela antena parabólica nas casas das pessoas, do Brasil inteiro, mostrando cabeças notáveis com Djalma Motta Argollo, Adenauer Marcos, André Luiz Peixinho, Ruth Brasil Mesquita, Carlos Bernardo Loureiro e um monte de “feras”, mostrando um espiritismo racional, coerente, sensato, sem proibições e sem obrigações. Ao mesmo tempo, esse doido lança uma revista que as pessoas poderiam comprar em qualquer banca do Brasil, tudo isto fora do meu controle e fora das lâminas da minha guilhotina.

O que eu posso fazer?

É inevitável que o “meu” público vai tomar conhecimento dessas instruções e isto será altamente prejudicial aos meus interesses, porque vão perceber que o Espiritismo não é bem essa seitazinha que eu pratico aqui.

O que eu tenho que fazer???????

Difamar o Alamar, uai. Tenho que dizer que ele não sabe nada de Espiritismo, que é obsediado, picareta, que dá desfalques, que faz isto e que faz aquilo, se possível dizer que ele esteve envolvido com o Bin Laden na destruição das torres gêmeas... enfim, eu tenho que defender os MEUS interesses, a qualquer custo!!!!!

É o que acontece, no ambiente RELIGIOSO espírita.

É óbvio que os procedimentos indecentes e imorais não acontecem apenas no meio religioso, já que estão presentes também nos ambientes políticos, empresariais, comerciais, enfim, na sociedade em geral; mas que no ambiente religioso ele acontece com toda intensidade, EM TODAS AS ÉPOCAS DA HUMANIDADE, disto você não tenha a menor dúvida.

Basta ter a curiosidade de ler, atentamente, inúmeros livros maravilhosos que retratam a história das religiões, no mundo. Recomendo um livro do meu querido amigo, José Reis Chaves, lá de Belo Horizonte, Teólogo Católico que virou espírita, e que, entre vários livros excelentes, escreveu “A Face Oculta das Religiões”. (este livro está inclusive a venda em nosso site: www.redevisao.net). Vejam o que ele diz lá e saiba, com certeza, que ele não inventou nada, apenas retratou REALIDADES.

Alguns, para colocarem algum quê de credibilidade na religião, citam Dom Hélder, Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá e vários nomes verdadeiramente notáveis, que foram religiosos. A própria Joanna de Ângelis, Emmanuel e vários outros trabalhadores espirituais, que foram religiosos dignos em várias encarnações.

Ora. Também pudera, se não tivesse ninguém que prestasse, em toda a sua história.

Existem gerentes de bancos que são dignos, apesar de gerirem os bancos, os maiores ladrões do país.

Para concluir

Sou espírita, sim, e procuro estar coerente com Kardec, o máximo que posso, inclusive tendo prestado atenção na questão que diz que JESUS É O MAIOR MODELO E GUIA QUE TEMOS A SEGUIR.

Lancei o livro "Espiritismo, o Consolador Prometido", excelente obra de autoria de Djalma Motta Argollo, com argumentações lúcidas e coerentes, em demonstrar que, de fato, a nossa doutrina é o Consolador, prometido por Jesus. Mas repito a pergunta que fiz na matéria anterior: O que Jesus tem a ver com religião? Por que temos sempre que vincular a idéia Jesus com religião?

Pratico reunião do “Evangelho no Lar”, em minha casa, com prece e tudo. Só que não pratico o igrejismo de sempre abrir o livro no meio, (ao "acaso") como muitos fazem, caindo sempre nos mesmos assuntos, e ainda viver a enganar a mim mesmo, sob a argumentação de que foram os Espíritos que quiseram que o livro abrisse naquele lugar. Mentira, quem faz abrir naquele lugar é a forma ritual como muita gente faz o Espiritismo. Nós procuramos estudar, capítulo a capítulo, desde a introdução, com cada membro da família comentando e discernindo em cima do assunto estudado.

Aprecio o notável Carlos Imbassahy, também... Só não o vejo como São Carlos Imbassahy. Adoro o respeitadíssimo Herculano Pires, inclusive uma das minhas queridas amigas, que sempre retorna os meus e-mails, é a sua filha, Heloísa Pires, tão admirável quanto ele, porque é uma das mais extraordinárias Mestras e Expositoras espíritas do mundo.

Adoro Deolindo Amorim, Hermínio Miranda e todos esses notáveis da história do Espiritismo, mas também adoro os Gigantescos Hernani Guimarães Andrade e Henrique Rodrigues.

Imbassahy emitiu as opiniões dele, Deolindo também, Emmanuel também, Herculano também... Paulo de Tarso também teve opiniões, nem sempre coerentes com Jesus, como aquela bobagem que ele disse, que mulher não tem direito nem de abrir a boca. Eu vou deixar de gostar dele, por causa disso?

Tenho a maior afinidade com o meu amigo Divaldo Franco, o Di, querido, com quem troco e-mails sempre, simpatia e amizade que é recíproca, porém ele é também simpatizante da idéia Espiritismo Religião. E daí? Qual o problema?

Medrado é outro que não abre mão da concepção Espiritismo Religião. No entanto, temos uma afinidade enorme.

O objetivo da matéria foi apenas questionar, como opinião pessoal, que utilidade tem para o Espiritismo ser religião?

Você pode ver uma utilidade enorme, talvez até a sua razão de existir, mas eu, sinceramente, não vejo nenhuma.

Afinal, somos Evolucionistas, baseados em Darwin, ou Criacionistas, baseados em Adão, Eva e a Cobra?

Se estamos inseridos no segundo caso, temos necessidade de re-ligarmos mesmo, talvez devolvendo a maça que foi comida, sem autorização do Homem.

Centro Espírita deve ser ESCOLA e não IGREJA.

Abração, Gente!

Alamar Régis Carvalho

alamar@redevisao.net

www.redevisao.net

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