29 maio 2009

Dialogando sobre o Espiritismo Autenticidade

Partindo do princípio que somos adeptos de uma doutrina que se apresenta como racional, que foi estabelecida dentro de conceitos racionais, que afirma que “fé inabalável, só é aquela que pode enfrentar a razão, face a face, em qualquer época da humanidade” e que, também, recomenda-nos que “o dia em que a Ciência comprovar que nós, espíritas, estamos errados em algum ponto, compete-nos abandonar o ponto equivocado e seguir a Ciência”, faço algumas perguntas aos meus amigos.

Veja se tem sentido alguém, do nosso movimento, colocar frases como estas:

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- “Estes assuntos não devem ser tratados.”
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- “É preferível evitarmos falar sobre essas coisas, para evitar polêmicas.”
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- “Não devemos questionar os espíritos”.
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- “É bom evitar convidar fulano, para fazer palestras no centro, porque ele é muito polêmico”.
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- “Nós não gostamos de fulano, porque quando ele escreve expõe os problemas do nosso movimento, e precisamos ser mais dóceis e fraternos no que escrevemos e falamos”.
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- “A diretoria da casa decidiu proibir que Fulano faça palestras aqui, é decisão tomada, é assunto encerrado e não é conveniente falar sobre isto”.

Sinceramente, meu caro leitor, você consegue ver alguma sensatez e até honestidade em posicionamentos como esses?

Afinal de contas, a Doutrina é ou não é racional?

É ou não é segura, o suficiente, ao ponto de afirmar que pode enfrentar a razão, face a face, em qualquer época da humanidade?

Que solidez doutrinária pode ter um espírita, sobretudo quando em direção de um centro, que foge ao debate, foge ao questionamento e foge a explicar o porquê das suas decisões?

Quando eu digo que não quero falar sobre determinados assuntos ou determinada pessoa, para evitar polêmicas, será que o motivo é mesmo para evitar polêmicas ou é porque eu não tenho o preparo suficiente para conduzir uma discussão sobre o assunto e nem tenho bases sólidas e sensatas para sustentar as minhas teses?

É preciso que estejamos todos atentos para a sutileza de certas atitudes.

- “Olha, minha irmã, vamos evitar falar sobre o nosso irmão, preocupemo-nos com coisas elevadas, tem tanta coisa pra gente fazer aqui na casa. Recomendo apenas que oremos muito por ele, porque ele está precisando muito”.

Existe postura mais sem vergonha do que esta, que é muito comum em nosso movimento?

Você percebeu quanto veneno existe mascarado por uma suposta tranqüilidade e sugestão para falarmos sobre as tais “coisas elevadas”?

Em um Espiritismo Autêntico não pode existir nada que não possamos discutir, nada que não seja absolutamente transparente, nada que esteja envolto em máscaras e nada que possa ser enquadrado como safadeza vestida de humildade.

Cito alguns exemplos:

Vamos que alguém nos questiona sobre o porquê nós espíritas não batizamos os nossos filhos. Se limitarmos a nossa resposta apenas no “porque sim” e no “porque a doutrina não admite isto” estaremos mostrando a nossa fragilidade e o quanto somos espíritas inseguros, sem conhecimento básico da essência da nossa doutrina.

De repente o perguntador é uma pessoa praticante de uma religião tradicional, que pode nos trazer outro questionamento, em cima disto:

- “Ah, mas Jesus foi batizado, por João Batista. O batismo é bíblico. Se vocês dizem acreditar em Jesus, falam tanto no nome dele, então estão em incoerência com ele”.

É preciso que o espírita procure entender a essência da doutrina, a base lógica da doutrina, para poder argumentar, com segurança, em cima de todo e qualquer questionamento, de quem quer que seja.

- “Meu irmão. O Espiritismo não pratica o batismo, porque se tratava apenas de um ritual, da época, praticada pelo povo Judeu. Era uma prática comum, que todo aquele povo se submetia. Jesus se submeteu também, porque ele era judeu, era um costume que não fazia mal a ninguém, não ia de encontro aos seus princípios morais, havia uma certa afinidade dele e de sua família com o João Batista, portanto, ele foi lá no rio Jordão e se deixou batizar. No entanto, ele nunca batizou ninguém e nunca falou sobre isto, o que nos remete a entender que não é algo que mereça toda essa relevância”.

Pronto. Alguma explicação está dada. Não é bem mais segura do que simplesmente dizer que “porque sim” ou “porque a doutrina não permite”?

Cito outro exemplo:

Faz de conta que um determinado cidadão venha a fazer uma palestra em meu centro, e ao ser perguntado, por alguma mulher que esteja sendo vítima da lamentável cultura machista, porque muitas mulheres sofrem tanto, por esta suposta superioridade que o homem acha ter sobre ela:

- “Olhe, minha irmã. Conforme tem sido muito divulgado, inclusive já saiu este questionamento no Fantástico, há cientistas de universidades americanas que descobriram que, de fato, a mulher tem menos neurônios que o homem, e por isto existe, de fato, essa inferioridade moral.”

Ora. O cara falou besteira e fez uma afirmativa que vem de encontro a doutrina espírita.

Temos que estar preparados para chegar até ele, sem nos preocuparmos se vai gostar ou não, e afirmar que ele falou bobagem, mas temos que ter competência e coerência para enquadrá-lo no ponto doutrinário que ele errou:

- “Meu amigo. Na questão 818 de O Livro dos Espíritos, quando Kardec faz um questionamento deste aos espíritos, eles nos dizem que isto vem do domínio injusto e cruel que o homem exerceu sobre a mulher, e que é resultante das instituições sociais e do abuso da força sobre a sua fraqueza física. Não tem nada a ver com menos neurônios. Portanto, o que você falou não procede, é coisa da sua cabeça.”.

Gente, por que não agimos assim?

Fomos verdadeiros para com o nosso irmão, fomos honestos para com ele, fomos coerentes para com a doutrina, proporcionamos a ele a oportunidade de saber como a coisa realmente é, já que, no mínimo, ele vai procurar consultar a obra básica para ver se é isto mesmo.

Tem como esse irmão dizer que estamos errados? Tem como ele afirmar que é a nossa interpretação que é diferente da dele?

Não tem nem como ele querer dar um jeitinho e vir argumentar que uma determinada palavra, usada na resposta dos espíritos, significa a mesma coisa que a palavra neurônios, nos dias de hoje.

Para afirmarmos que fulano é anti-doutrinário, temos que estar preparados para matar a cobra e mostrar a cobra morta, já que mostrar o pau apenas, não é o suficiente.

Agora fica essa palhaçada de, simples e comodamente, condenar companheiros, sob a estúpida alegação de que “foi decisão da diretoria da casa”?

Não se pode sorrir num centro espírita, porque é considerado desrespeito à casa.

Chega de tanto PSIU na casa espírita!!!

Mandei fazer um quadro onde aparece Allan Kardec sorrindo e Jesus sorrindo.

Você não imagina o rebuliço que esta minha iniciativa causou, e ainda causa, na cabeça de muitos espíritas.

Uma amiga, do interior de São Paulo, achou tão bonito que resolveu mandar imprimir, em tamanho grande, mandou colocar numa moldura bonita e levou, para dar de presente ao centro espírita onde ela freqüenta, a fim de ser colocado na parede.

Foi um Deus nos acuda!!! Só faltaram mandar a moça para os quintos dos infernos, sob a alegação de que aquilo era um desrespeito a Kardec, que ela estava se deixando levar pela “insanidade” do Alamar e que jamais a direção da casa iria permitir afixar um quadro daquele nas paredes do centro. Um diretor chegou a tal nível de histerismo, que veio a quebrar o vidro do quadro, em plena livraria do centro, na frente de algumas dezenas de pessoas.

Que diabo de equilíbrio é esse?

Como pode alguém considerar que sorriso é sinal de desrespeito, se sorrir, geralmente, é manifestação de alegria e de que a pessoa está feliz?

Como é que alguém pode conceber que Allan Kardec e Jesus nunca sorriram?

- “Vamos evitar fazer perguntas fúteis aos espíritos, na mediúnica!”

Qual é o limite dessa futilidade? Quem é que determina essa limitação? O que é e o que não é considerado fútil?

Se eu encontro um amigo, encarnado, que não vejo há muito tempo, eu posso relembrar coisas passadas, posso falar de futebol, posso relembrar casos engraçados ocorridos com nós dois, posso até dar gargalhadas e falar algumas bobagens; mas se encontrar o amigo desencarnado não posso mais?

Se a doutrina diz que o desencarnado é exatamente a mesma pessoa encarnada, com os mesmos gostos, apenas sem o corpo, por que tem que ser diferente?

Será que tenho que ver os desencarnados sempre como defuntos, naquele mesmo clima de quando estava o seu corpo no caixão, no ambiente da mesma tristeza que comoveu os seus parentes e amigos?

Gente! O espírito que se comunica na mediúnica, é um defunto que já se levantou do caixão, há muito tempo.

Tenho a impressão de que muitos espíritas estão precisando estudar um pouco mais a obra básica da doutrina. Não estou falando em ler o Livro dos Espíritos, estou falando em estudar, voltar a questão, parar, pensar, refletir, questionar e raciocinar bem em cima de cada uma delas.

Não é preciso decorar números de questões e sair pronunciando, só pra dar a impressão de que entende muito de Espiritismo, relevante é entender a essência da doutrina.

Aí vem a argumentação da disciplina.

O que é disciplina?

É submisssão? É dogma? É bico calado? É aceitação sem questionamento? É acomodação? É formalidade?

Está uma chuva torrencial lá fora, eu sei que a maioria dos freqüentadores da casa está enfrentando certa dificuldade no trânsito, para chegar ao centro, e certamente chegará um pouco depois das 20 horas. Mas, em nome da disciplina, eu tenho que começar os trabalhos exatamente às 20:00:00 horas, senão os espíritos mentores da casa me castigam. Não devo ter o mínimo de tolerância, neste dia, porque me acho indisciplinado.

Será isto mesmo disciplina ou sofisma?

Tem muita gente besta por aí, aquilo que chamamos de cegos pretendendo guiar cegos, como diz o Evangelho.

Gente, o Espiritismo bem praticado é uma maravilha, é gostoso, é interessante, a gente fica no centro até esperando que as horas não passem, porque o ambiente fica “bão” demais e não há pressa nenhuma em voltar para casa. Por que tanta gente complica?

Se Jesus “baixasse” num centro espírita onde eu estivesse freqüentando, e viesse calçado com aquelas sandálias horrorosas e duras que ele costumava calçar, na Palestina, no tempo em que viveu encarnado por aqui, sinceramente, não tenham a menor dúvida de que eu, Alamar, iria brincar muito com ele e sugerir que experimentasse as legítimas Havianas, aquelas que não deformam, não tem cheiro e nem soltam as tiras.

E não pensem que eu iria comprar uma branca para dar de presente pra ele não, iria comprar uma azul, daquelas que tem a bandeirinha do Brasil na tira, igual esta da foto, sabendo que ele iria andar pelo mundo afora.

Sei que, depois do meu gesto, alguns iriam querer convencê-lo a vestir a camisa do Flamengo ou do Corinthians, já que ninguém toma iniciativa de nada, enquanto não aparecer um corajoso antes, para quebrar os padrões formais e os protocolos. .

Tem crente que odeia a Xuxa porque ela se refere a Deus como “o cara lá de cima”. Uai, qual o problema?

Será que ele, na sua incomparável superioridade, vai ficar danado, vai mandar pragas de gafanhotos e coceiras nas hemorróidas dela? (Engraçado. O Deus da Bíblia adora mandar coceira nas hemorróidas das pessoas. Não sei que diabo ele gosta tanto de hemorróida, mas, segundo o Velho Testamento, ele adora. Será que não tinha outro lugar do corpo humano para Deus descarregar as suas iras nas pessoas?).

Pratiquemos um Espiritismo com Kardec, gente! Mas com o Kardec professor e educador e não com um Kardec Padre, uma vez que este nunca existiu. Com o Kardec que era um bom pé-de-valsa, um bem humorado substituto de Pestalozzi, que encantava todo o corpo discente, quando o Mestre se ausentava da escola de Yverdun. (Eu não tô falando desse Allan Kardec do Vasco não, infiliz, é o outro!!!).

Nada de espiritismo de castração, de formalidades, de proibições e de imaginários quartéis onde criaturas disfarçadas de generais neuróticos se aproveitam para comandar o contingente de freqüentadores como se fosse uma tropa de soldados submissos a obedecer todas as ordens, sem poder falar nada, porque dizem que na vida militar o superior nunca erra.

O queijo autêntico é muito mais gostoso, o vinho autêntico também, o Espiritismo Autêntico, não poderia ser diferente e é muito melhor também.



Abração, Gente!



Alamar Régis Carvalho

alamar@redevisao.net

www.redevisao.net

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